domingo, 21 de outubro de 2012

Texto: Uma lembrança

Eis que surgiu mais uma vez,
dentre os túmulos ocupados pelos putrefatos
(e velhos
e sujos
e soltos)
corações,
um sorriso,
um olhar,
uma lembrança.

Eis a Garota da Gávea
a roubar meu coração
com seus olhos verdes
ao som duma canção.

E havia de ser numa noite de chuva
que o calor,
ironicamente,
viria a reviver minhas esperanças
podres,
largadas,
esquecidas,
maltratadas,
subestimadas.

E meu coração
havia de insistir em vagar
em vão.
Perdido, como sempre
nos labirintos
dos teus olhos.

Só me prendo entre teus beijos.
Só me esqueço em teus abraços.
Só me enrolo em teus cabelos.
Só me encontro,
perdido,
nos teus olhos.

E se só me prendo entre teus beijos,
se só me esqueço em teus abraços,
se só me enrolo em teus cabelos,
se só me encontro,
perdido,
nos teus olhos
(labirínticos),
há de ser pela sorte
de te saber
perfeita.

Já me esqueço de esquecer,
como d'outra feita,
num dia de sol.
Mas a chuva cala
em sua voz úmida
o silêncio da noite
e eu já sonho em sonhar
acordado
sempre.

Em momentos de clareza
que só me vêm na escuridão,
eu já sonho
viver
de poesia.

Independência
é
morte
e hoje
eu só quero
viver.

Dependência
de pendência.
Venho cobrar
depender
de te saber
minha,
por uma dose
diária
de felicidade.

Eis que surgiu mais uma vez,
dentre os túmulos ocupados
pelos assassinados corações,
você.
Trazendo teu dom
de expulsar a tristeza
ao sorrir.

Já nasceu o sol.
Agora só espero os rojões
a celebrar o fim do dia 30 de janeiro,
que me obriga a lembrar, todo dia,
de você.
E nesse novo dia,
quando o sol nascer,
eu então poderei
escolher não te esquecer.
Jamais.