terça-feira, 25 de junho de 2013

Texto: Poema do eco

(Um nome que me ecoa na cabeça)

BOOM!
O mundo acabou.
Não vejo mais nada,
não lembro quem sou.
(não quero ser nada,
não sei nem se vou)

Agora só há o silêncio (êncio, êncio)
Agora só há a memória (ória, ória)
Agora só há a vontade de inventar uma última estória.

Mas minha ideia fugiu, (Giu! giu).
Buscou outras terras, partiu.
Perdeu-se no mesmo momento em que você pros meus olhos sorriu.

Meu mundo acabou,
que grande tirada!
(eis minha grande jogada!)

Não, senhora, não chora.
Sorri que o mundo melhora.
Já é hora de ir embora
(se preferir fico aqui fora, não cora)
A aurora não demora (nem hora)
Vem aqui. Me namora.
Ora senhora, e agora?

(E ela me deixa no frio,
tão vil! (Giu! giu)
Dispara meu coração
a mil(Giu! giu))

Olha pra mim, sim (sim)
Sorria assim (sim, sim)
E me diz que sim (sim! sim!)
Que se encerra o fim.

Meu mundo acabou (renasceu)
E eu finalmente era eu (eu, eu)
Até que o seu olhar me fugiu, Giu (giu)
E de novo meu mundo ruiu.

(Giu, Giu, G   i   u, G       i         u, G       i, G)

terça-feira, 4 de junho de 2013

Um começo: As primeiras impressões

Uma, duas, três vezes se cruzaram até que se percebessem por completo.
Podiam já ter se conhecido da primeira. Fora num parque, num dia de sol. Ambos sozinhos. Andando, olhando, fotografando. Mas não se viram.
Nem ele esbarrou nela derrubando sua bolsa nem ela lhe foi pedir qualquer informação idiota. A vista dele até roçou o ombro dela e os inquisitivos olhos dela por muito pouco não se fixaram nele.
Na segunda vez ele a viu. Ela o viu. Mas não se viram. Digo, viram-se, mas seus olhos permaneceram desencontrados. Nada incomum.
"É bonita", pensou ele.
"Diferente", pensou ela.
Se este 'diferente' quis dizer 'parece um filhote de cruz credo' ou somente 'diferente, que chama a atenção' fica a seu critério. Não entendo a mente feminina nem sequer quando a crio.
Cruzaram-se. Foi só. Como era de costume ele ainda se virou, viu-a andar.
"Afinal de contas não nasci cego..."
Viu também seus cabelos escuros caindo bastante abaixo dos ombros. Viu também seu jeito de andar. Decidido como quem não sabe bem onde vai, mas vai mesmo assim. Não teve a chance de rever seu rosto. Num relance rápido havia lhe parecido bonito, agradável. Imaginou-o sorrindo (nos dois possíveis sentidos). Virou-se. Seguiu.
Da terceira vez uma mudança de sorte propiciou um encontro mais longo.
Coisa estranha essa sorte. Imprevisível. Tem vezes que está ótima e a gente só percebe quando acaba. Tem vezes que está péssima e quando muda a gente percebe que nem estava tão ruim. Tem vezes que a gente acha que está boa e de repente percebe que estava péssima. E tem vezes que parece que está péssima e a gente descobre que estava melhor do que nunca. Tem vezes.
Dessa vez a sorte mudou pros dois lados ao mesmo tempo. Ou se disfarçou de azar e continuou sorte. Não sei bem ao certo. Não sou de entender o mundo.
Só sei que não fosse a falha do despertador dele ele não estaria na rua naquele horário. Não estaria andando mais rápido. Não estaria distraído com as mil coisas que tinha que ter prontas e não tinha.
E também se ela tivesse conseguido se fazer ouvida pelo cidadão extremamente bem nutrido que não lhe permitira descer do ônibus no ponto certo não estaria naquele exato ponto da rua. Não estaria andando para aquele lado. Não estaria olhando para baixo para ver se tinha deixado cair alguma coisa.
No meio do caminho, chocaram-se. Mas não uma esbarrada qualquer, daquelas que derruba o que se segura nas mãos, se sorri envergonhado e se continua o caminho. Não. Uma esbarrada de verdade, testa com testa, daquela que te deixa tonto por uns quinze minutos e que só permite uma única combinação de palavras.
-FILHO DA PUTA! - disseram os dois numa sincronia idiota.
Da boca dela ainda saiu um:
-Olha por onde anda, porra!
Ele já se desculpava.
Ao lado um senhor barbudo, morador de rua, não fazia o menor esforço para conter o riso
-'Num' 'vo' nem pedi' trocado!
Ele (não, não o morador de rua) olhou pra ela, ela olhou pra ele. Ela com a mão na cabeça, visivelmente irritada. Ele solta uma risada discreta. Ela sorri.
-Desculpa? - disse ele, se abaixando para pegar a bolsa dela do chão.
-Ah, acontece. - disse ela, ainda sorrindo. Pegou a bolsa das mãos dele. Fica parada. Espera alguma coisa?
-Tô correndo, já to bem atrasado. Desculpa mesmo, viu?
-Vai lá, vai lá.
Mas é ela quem sai andando enquanto ele fica parado no mesmo lugar.
"Um minuto a mais, um minuto a menos, já nem faz diferença mais".
Ele se vira.
-Ei!
Ela se vira. Ele sorri.