quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Texto: Maldição

Fui teu espelho. Quebraste-me. Terás 7 anos de azar. Ainda busco refletir (aos cacos) o tempo que custa a passar.
(Asas de morcego, teias de aranha. Antes não sabia, mas o teu amor arranha.)
Maldigo-te: Que por me escapar na tua forma física não possas escapar jamais aos teus próprios sonhos! Que estes sejam felizes a ponto de tornar cada despertar um pesadelo! Que eu lhe povoe o pensamento e que você perceba que tens a eterna opção de regressar à felicidade que finge repudiar!
Teus feitiços são mais fortes.
(Lágrimas de um amor perdido, pedaços de um coração partido. Quem um dia foi amor, não será só conhecido.)
Com que facilidade rompem-se os laços d'alma que tivemos! Com que desenvoltura finges não me ou te conhecer! Com que força sustentas a farsa que vives! Com que magia negra faz-me sempre pensar em você!
(Palavras de ternura, dias de felicidade. Minha maldição é sentir tanta saudade.)
Fui teu espelho. Quebraste-me. Por ódio à tua própria imagem acabas por destruir os laços que te prendem à realidade. Fui teu espelho. Quebraste-me. Terás 7 anos de azar e eu outros tantos de lembranças mais felizes do que eu gostaria que fossem.
(Confissões engasgadas, segredos compartilhados. Para sempre hão de doer os nossos laços cortados.)
Que existas por tempo indeterminado e que seja incapaz de esquecer as almas que tocaste. Que teu infinito te consuma em fogo lento e que o brilho de tua vida insista em habitar os lugares onde não estiveste. Que tenha a certeza de estar sempre incerta quanto a tudo e que não possas ser feliz na solidão de ser uma só.
(Olhares desviados, sonhos amassados. A memória sempre reina nos corações mais cansados.)
Busca tuas luas, Ismália. Busca teu brilho, tua loucura, tua felicidade. Mas eu te amaldiçoo. Que não possas, jamais, ser verdadeiramente feliz enquanto não obtiver o perdão das almas que deixou. Que a solidão não te baste e que sem um espelho não se possas ver por inteira. Que mudes quem é para descobrir que foi melhor antes. Que qualquer dia acordes pensando no que fez da tua vida e saibas exatamente onde errou. Que chore então as lágrimas do arrependimento e que lide com a irreversibilidade dos ferimentos de alma.
Fui teu espelho. Quebraste-me. Mas também se rompeu no processo.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Texto: Veja bem

A gente se vê por aí, andando na rua se vê.
A gente se vê por aí sem nunca marcar de se ver.
Se a gente se vê, certo dia (bem pode acontecer)
Pode ser que a gente pudesse um dia marcar de se ver.
E se um dia andando na rua meu olho direito te vê
(e o esquerdo depois alertado logo já encontra você)
Não se faça de desavisada quando eu for falar com você
Falando que a gente podia um dia marcar de se ver
Mas se o meu olho te perde e eu não encontro você
Andando na rua ou no parque, apressada, sem tempo a perder
A gente se vê por aí, andando na rua se vê
A gente se vê por aí sem nunca marcar de se ver.

Viu só?

domingo, 1 de dezembro de 2013

Lista: Coisas que voltam

Boomerangs bem lançados.
Dores crônicas.
Cachorros perdidos que sabem farejar.
Cachorros abandonados que sabem farejar.
Doenças que não foram completamente tratadas.
Pessoas que foram viajar.
Pessoas que foram morar em outro lugar e não gostaram.
Mentiras mal contadas.
Pombos-correio.
Cartas com destinatário inexistente.
Namorados que não deviam ter terminado.
Namorados que deviam ter terminado mas mesmo assim voltam. Umas dez vezes. Depois brigam de vez.
Os motivos para terminar em todas as dez vezes, obviamente.
De vez em quando as bolas que a gente chutou pro terreno do vizinho.
Bons filhos às suas casas.
Barriga depois de um regime mal feito.
Brincadeiras de mau gosto ("Vai ter volta!")
Lembranças.
Pessoas que a gente espera nunca mais encontrar de novo.
Amores velhos.
Não. Amores não ficam velhos.
Amores.
Gente que reencarna depois da morte.
Espíritos.
Espíritas.
Espirros.
Bocejos.
Tosses.
Torcicolos.
O Palmeiras pra primeira divisão um ano depois de cair.
O que a gente faz quando bebe.
O que a gente planta (e depois colhe).
Trabalhadores ao fim das tardes.
O verão todo fim de ano.
O inverno todo meio de ano.
O outono e a primavera eu não sei direito em que mês, sempre me confundo.
Papai Noel.
Gente arrependida que foi embora e percebeu que não devia.
Coisas que a gente joga pra cima.
Coisas que a gente joga pra baixo e pingam.
Fome depois de algumas horas sem comer.
Sede a mesma coisa.
Vontade de ir ao banheiro.
Mau cheiro e necessidade de tomar banho.
Ela ("Mas ela vai voltaaaar! Mas ela vai voltaaaar!").
What goes around.
Você pros meus pensamentos.
De novo.
E de novo ainda.
E quando eu acho que não volta mais, de repente já tá lá (já tá lá. já tá lá. já tá lá.) de novo.
E junto volta a indecisão.
Volta a vontade de fazer o que não devo.
Volta a vontade de fazer o que não devo com você.
Volta o frio na barriga.
Volta a sensação de ter 12 anos e de ser um completo imbecil.
Volta a vontade de te ver a cada cinco minutos.
Volta o medo de te ver a cada cinco minutos e gostar mais do que devo.
Volta a lembrança dos seus olhos.
E dos seus cabelos.
E de outros atributos, bem ou mal sou humano.
O som da sua risada.
A cafonice, como todos podem perceber...
A vontade de ser feliz pra sempre.
A vontade de ser feliz por um segundo.
A cleptomania de roubar mais um beijo.
O desejo de fazer uma pergunta:
Já que você volta, por que não fica?
:)