sábado, 21 de abril de 2012

Texto: Umas coisas de nada...

Um cumprimento tímido. Uma piada sem graça. Uma risada escondida. (Um sorriso lindo). Um sotaque carioca. Umas tantas horas. Uma intimidade crescente.
Uma conversa. Um sorriso. Um texto. Uma lágrima (será uma lágrima?). Uma fugida das regras. Um pedaço de chocolate. Umas tantas palavras perdidas. Uma frase de pouco sentido. Uma idiotice. Aquele mesmo sorriso. (Tão belo). Um par de olhos lindos (de que cor serão?). Um boa noite sem graça. Um sonho louco.
Um bom dia. Um ombro. Um abraço. Um lanchinho. Uma vontade. Um certo medo. Um erro de letra. Um abraço apertado. Umas tantas palavras. Uma segunda chance. Uma felicidade. Um elogio soprado ao ouvido. Uma vontade doida.
Uns violões ao ar livre. Umas músicas repetidas. Umas estrelas no céu (onde estão?). Uma história engraçada. Uma indireta. Uma bem direta. Um beijo escondido. Um casaco. Uma vergonha. Um boa noite tímido. Uma vontade de acordar logo para poder continuar sonhando.
Um abraço. Um bom dia. Um cansaço. Um aconchego. Um showzinho. Uma alegria. Umas crianças. Um sorriso (lindo, lindo, lindo, lindo, lindo). Dois olhos (lindos, lindos, lindos, lindos, lindos). Uma piscina (!). Um frio. Uma despedida. Uma brincadeira idiota.
Uma viagem de ônibus. Umas provocações. Um beijo roubado. Um beijo esperado. Um beijo conquistado. Um concerto ruim. Um sono. Um jantar. Uma viagem de ônibus (de novo!). Um vou não vou. Fico não fico. Durmo não durmo. Beijo não beijo. Umas tantas outras dúvidas. Um sonho impossível. Um adeus meio triste.
Uma viagem comprida. Um sono pesado. Um silêncio sentido. Um falo não falo. Um quero não quero. Um quer ou não quer (?). Um medo tão grande. Uma timidez absurda. Um almoço horroroso. Uma pergunta engasgada. Uma resposta tão triste. Uma vontade tão louca. Uma chegada. Um número de celular. Uma apresentação. Uma fugida. Uma festa. Uma hora. Uns carinhos. Uns elogios. Uma saudade. Uns beijos. Umas loucuras. (Uns loucos). Uma tranquilidade. Um fim de festa. Uma esperança? Uma tentativa? Uma possibilidade? Um sonho? Dois? Mil? Um adeus enrolado.
Um bom dia tão triste. Tão só. Tão terminal. Uma despedida desesperada. Uma lágrima solitária rapidamente escondida.
Uns quatrocentos e sete quilômetros. Umas palavras trocadas. Uma impotência.
Umas coisas de nada que de repente viram tudo do avesso. Umas pessoas que sem conhecer direito parece que conhecemos pela vida inteira. Uma certeza de que esse avesso é mais feliz e mais correto do que aquele certo tão racional.
Umas coisas de nada que nos marcam.
Umas coisas de nada que sonhamos viver.
Umas coisas de nada que passam.
Umas coisas de nada que ficam para sempre, como um sonho realizado, como uma manhã de sol num sábado, como uma praia no verão, como um beijo de despedida, como um reencontro aguardado.
Umas coisas de nada que acontecem com todo mundo.
Umas coisas de nada que são tudo o que temos.
Umas coisas de nada que às vezes deixamos escapar.
Umas coisas de nada que mudam nossas vidas. Outras que vamos esquecer com o tempo.
Umas coisas de nada. São tudo o que eu quero. De volta.

domingo, 15 de abril de 2012

Notícia: Futebol

Piermario Morosini. 25 anos. Jogador de futebol.
Aos quinze anos participa da seleção sub-17 italiana. Meio campo. Categorias de base da Udinese. Sua mãe falece no mesmo ano.
Dois anos depois tem a chance de se tornar profissional. Continua nas seleções de base italianas. Seu pai morre. Pouco depois seu irmão. Sua estreia é adiada.
Em 2005, aos dezenove, estreia como profissional pela Udinese. Só joga cinco jogos pela equipe. Não marca gols. Não se destaca. É emprestado pela equipe ao Bologna, time da série B italiana.
Os empréstimos ficam constantes. Não se firma. Não vai para a seleção principal italiana.
Não fica muito tempo em nenhum clube. Passa por seis até 2012. Em Janeiro chega ao seu novo destino, o Livorno, time que sonha com os anos de glória que já teve. Agora, série B.
Seguiu seu sonho. Nada deu certo. Mas ainda sonha.
Em Março aumenta a carga de treinos. Muda a dieta. Espera conseguir resultado.
Começa Abril. No dia 13 o Livorno se prepara para um jogo contra o Pescara. Ocupa somente a décima sexta colocação na tabela da série B. Trigésima terceira rodada. Livorno tem que ganhar para garantir a permanência na série B.
Vinte e cinco minutos de jogo. Livorno vence por dois à zero. Piermario joga.
Trinta e um minutos. Livorno no ataque. Piermario tropeça. Levanta. Tropeça. Levanta. Tropeça e já não levanta mais. O jogo pára. A respiração pára. O coração pára. Médicos tentam reanimá-lo. Em vão. A ambulância não consegue entrar no estádio. Um carro de polícia bloqueia a passagem. O policial provavelmente assiste o jogo. Quebram o vidro, soltam o freio de mão e empurram o carro. Dez minutos depois de o mundo parar a ambulância entra. Piermario é colocado lá dentro com vida. Tem três paradas até chegar ao hospital. Chega morto.
Não deixa filhos. Só o que lhe resta da família é a irmã. É cruel dizer que esta não sentirá sua falta. Verterá suas lágrimas e enterrará o irmão, mas já não o via há anos e não o conhecia bem. Não, não sentirá falta por muito tempo.
Em uma semana, talvez um mês, seu nome estará esquecido. Sua história então já não é conhecida. Os torcedores lamentam o adiamento da rodada.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Texto: Supernova

Algumas coisas não foram feitas para durar.
Brilham com tamanha intensidade de luz, irradiam tamanha alegria que ao acabarem (sempre de repente) deixam em seu lugar um buraco negro, consumindo o calor a nossa volta.
Esse foi o caso da minha cachorrinha Sofia.
Um certo dia ela apareceu, não se sabe bem como nem de onde. Ouvi que estava em uma caixa cheia de cachorrinhos abandonados. De algum modo chegou em mim. Ficou cerca de uma semana sendo chamada de "cachorro". No fim virou Sofia.
Sofia chegou em casa com menos de um mês de vida. Era uma bola de pêlo. Não sabia nem andar direito! Aprendeu rápido. Só não sei se foi antes ou depois de aprender a morder. Também não demorou pra crescer. E como cresceu!
Ficou bonita, o pêlo liso, parecia cachorra de raça! E como era engraçada. Gostava de morder os calcanhares das pessoas, sem machucar, só pra provocar mesmo. Além disso tinha o péssimo costume de destruir (mesmo!) qualquer meia que encontrasse pelo chão.
Meu outro cachorro tinha horror a ela! Depois acostumou, ficaram "amigos". Ela não descolava dele e nem ele dela.
Uma vez ela destruiu minha meia.
Uma vez mordeu minha orelha.
Uma vez roubou um pedaço de pão da minha mão.
Uma vez rasgou minha camiseta preferida.
Uma vez sentou em cima de mim e ficou lambendo minha cara.
Percebia quando eu estava triste ou feliz (não que isso significasse mais ou menos mordidas).
Como ela era a "invasora" na casa e já tínhamos um cachorro macho, decidimos castrá-la.
No dia treze de Abril de 2012, Sofia teve uma reação a anestesia e morreu.
Toda a luz e alegria que emitiu é insuficiente para cobrir o gigante buraco negro de sua ausência.
Viveu intensamente e o de repente de sua morte tira todo o meu amparo.
Fico a imaginar latidos, sonho acordar com lambidas. Não vem...
Viveu intensamente e estará para sempre na memória dos que apreciaram esta existência linda.
Viveu...
Intensamente...
Só me resta a saudade e a lembrança.