terça-feira, 24 de setembro de 2013

Texto: Prematuro

O dia nasceu tempestade
De lágrimas quase oceano
Fica a eterna vontade
De que seja só um engano...

O dia morreu prematuro
Bem antes do sol se pôr
E agora ficamos no escuro
Só com saudades e dor

Oh, lindo e pequeno Matias
Matias da mãe e das tias
Dos choros e das alegrias
Que a gente não vai mais ver

Matias, Matias tão lindo
Matias, não vão te esquecer
Saiba que até desconhecido
Ficou a torcer por você

Matias, Matias criança
Matias agora é lembrança
Matias, Matias lembrança
Pra sempre ficará criança

Matias, Matias danado
Não há de ficar no passado
Estará para sempre do lado
De quem um dia lhe quis todo o bem

Matias, Matias querido
Matias dos olhos de mel
Matias, Matias pequeno
Mais uma estrelinha no céu

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Texto: História perdida

Pois os dias se passaram e não restou história a ser contada. Nada. Ou quase nada. Uns parágrafos perdidos, umas palavras engasgadas e só. O resto é história do não.
Mas que tenho eu contra a história do não? Não sei. Por isso conto agora a história que não tivemos. Não por opção. Não, pela não opção nunca tomada de não não correr riscos e aceitar, quem sabe, um não, ao invés de guardar vários.
Não deixei de te cumprimentar, olhar teus olhos lindos e aquele sorriso ao qual já antes não me esqueci de elogiar. Não esqueci, obviamente, do não disfarçado de talvez que já antes fizera questão de ouvir, mas não deixei que ele se transformasse, quem sabe, em um sim. Há quem pense que não se arriscou a ouvir um 'não', mas eu não posso deixar de pensar que não me arrisquei a ouvir um 'sim'. Não sei. Pode ser que seja mais complexo.
Não pensei duas vezes em me por a disposição e em me fazer educado. Não escondi a gentileza, não tive que me esforçar pelo sorriso idiota que mantive no rosto durante a maioria do tempo. Não sei, às vezes te ver me dá vontade de sorrir.
O céu era bonito, sim. As estrelas brilhavam pouco mais que na capital, mas brilhavam. Nem por isso utilizei-me do clima pré-pronto para, quem sabe, trocar umas ou duas palavras mais baixas, suaves e tranquilas numa solidão não buscada.
Não houve muito tempo no tempo que se seguiu, mas não posso culpar a falta de tempo pela meu excesso de medo. Não, não medo. Definitivamente não é medo. É a constante espera do 'não' que me assombra já há algum tempo. Quase não espero um 'sim'.
Mas não me sentei do lado de outra quando tempo me restou e não deixei de tentar, com uma infantilidade imbecil, fazer obstáculo ao silêncio levemente constrangedor inerente às conversas entre pessoas que sabem muito bem o que é pensado delas. Não foi difícil. Não sei.
Sei que não lhe roubei um beijo, que não lhe disse umas palavras que deveria ter dito e que não me dei a chance de não estar sozinho.
Não lhe falei que é linda mesmo suja de tinta e suor, não disse que meu olhar tem sede do seu e, mesmo sendo assim, não deixei de desviar rapidamente os olhos em cada vez que estes, nem tanto por acaso, se cruzavam.
Não me importei em assistir o pôr-do-sol na sua companhia, por mais bonito que este fosse e não por falta de vontade não lhe disse nada que não pudesse ser dito por qualquer outro. Não me destaquei. Nem tentei.
Mas não fique triste, pelo menos rendeu uma belíssima não-história, daquelas que não emociona sequer quem emocionalmente instável já é.
Não toco mais no assunto, bem ou mal, não houve nada. E a minha certeza de que não virá me perguntar se é sua e minha esta não-história aqui registrada me deixa parte tranquilo parte desesperançoso.
Pra não dizer que não me despedi direito, mando-lhe agora um beijo e encerro esta história perdida sem mais delongas.
Ciao, bella. Até mais.